13 de junho de 2011

Portugal precisa de compromissos estruturantes- AJS Expresso

0:00 Sexta feira, 11 de fevereiro de 2011

Portugal precisa de compromissos estruturantes. Só assim reabilitaremos a política e seremos capazes de vencer os enormes desafios que temos pela frente.

Termino hoje a minha colaboração com o Expresso. Ao longo de 38 meses, nesta página, tive a oportunidade de defender o primado da política sobre os mercados, o combate à corrupção, a necessidade de os partidos políticos se reformarem, se aproximarem mais das pessoas e dos seus problemas concretos. Insisti na urgência da reforma do sistema político, na liberdade de voto como regra na vida parlamentar, em maior rigor e total transparência para o financiamento partidário e das campanhas eleitorais, na alteração da lei das autarquias locais, na aproximação entre os eleitos e os eleitores.

Pugnei pela necessidade de uma maior transparência na vida pública, na separação entre a política e os negócios, em maior decência no exercício de cargos públicos e no reforço da relação de confiança entre os políticos e os portugueses. 

Defendi a participação e a cidadania, a todos os níveis. Desde os orçamentos participativos até à possibilidade de os cidadãos poderem apresentar candidaturas ao cargo de provedor de Justiça, acabando com o monopólio dos partidos políticos. 
Escrevi sobre a justiça, lenta e cara, recheada de tantos inquéritos e tão poucos resultados.
Nestes 38 meses, o nosso país mudou muito. Escrevi sobre as crises, quando muitos ainda falavam apenas em crise financeira. Escrevi sobre a profundidade das crises e a sua duração, quando muitos referiam que era um fenómeno passageiro. Denunciei a elasticidade ideológica e contrapus à política dos cortes a política do crescimento económico, assente na qualificação dos portugueses e na competitividade das nossas empresas.
Defendi que os sacrifícios impostos aos portugueses deverão estar ligados a resultados objetivos. Que os sacrifícios deverão ser justos e partilhados de forma equitativa. Insisti no combate às desigualdades. Apontei que o nosso projeto de vida tem de ser um projeto de esperança e não de ciclos, mais ou menos contínuos, de austeridade.
Apontei para a debilidade do atual processo de construção europeia. A UE está a limitar a afirmação da Europa no mundo. Estamos a marcar passo. A UE carece de um projeto solidário, com governação política e económica, e que seja sentido pelos europeus.
Falei da verdade como primeira condição do discurso político, da necessidade de uma estratégia que respondendo às graves emergências do momento coloque os olhos no horizonte das próximas décadas. Defendi que tudo deveríamos fazer para transformar as crises numa nova oportunidade. Alertei para o crime de não aproveitarmos os jovens que qualificamos. De lhes darmos oportunidades de realização pessoal e profissional.
Falei de uma outra forma de fazer política, de uma nova política que mobilize os portugueses em torno de causas e de soluções que coloquem o país acima dos partidos políticos. A velha política em que cada um escolhe um lado, veste uma camisola e combate as propostas dos adversários só porque têm origem num partido diferente, tem os dias contados.
Portugal precisa de compromissos estruturantes. Só assim reabilitaremos a política e seremos capazes de vencer os enormes desafios que temos pela frente. 

P.S. - Hoje, termino esta colaboração com o Expresso. Gostei da experiência. Em particular, dos muitos comentários e debates que provoquei com os leitores. Agradeço ao João Garcia e ao Henrique Monteiro o convite que me fizeram e desejo muitas felicidades ao Expresso, e ao novo diretor Ricardo Costa, em vésperas da sua edição 2000.
Texto publicado na edição do Expresso de 5 de fevereiro de 2011

este texto foi retirado do site 
http://aeiou.expresso.pt/antonio-jose-seguro=s24870 ( consultado no dia 13 de Junho de 2011)