19 de junho de 2011

Seguro parte com clara vantagem

 

por Susete Francisco
Francisco Assis vai fazer uma verdadeira volta a Portugal na corrida para a liderança do PS, na tentativa de inverter a vantagem de António José Seguro, que reúne o apoio de grande parte das estruturas do partido.
O líder parlamentar cessante aposta tudo nos plenários com militantes, que vão repetir-se ao longo do próximo mês. E nos debates com o adversário – um terreno em que espera ganhar pontos ao seu rival.
Numa antecipação da moção às eleições directas, Assis apresenta já hoje o seu manifesto. Ganhar tempo é o objectivo, já que sabe que tem pouco mais de um mês para contrariar a vantagem de António José Seguro, que há anos que trabalha junto das estruturas locais socialistas.
Mas também Seguro se prepara para uma volta pelo país. Ou melhor, «mais do que uma», começando já este fim-de-semana. «A matriz desta candidatura é privilegiar o contacto directo. Seguro vai alargar a prática que teve nos últimos anos em Braga [o seu círculo eleitoral] ao resto do país», diz Miguel Laranjeiro. O deputado e membro do núcleo político segurista esclarece o que entende por contacto com os militantes: «Não é só debitar um discurso e ir embora. É também ouvir e debater».
Porto e Lisboa divididos
Quinze líderes de distritais já manifestaram o seu apoio a Seguro, contra apenas três que declararam estar com Francisco Assis. Castelo Branco e Açores ainda não decidiram.
É certo que com Assis estão os presidentes das duas maiores distritais – Porto e Lisboa. Mas, são ambas federações divididas quanto ao próximo secretário-geral do PS.
No caso da capital, nove concelhias socialistas já vieram contrariar o sentido de voto do líder distrital, colocando-se ao lado de Seguro.
Na Invicta, os apoios também estão equilibrados entre os dois candidatos. Renato Sampaio, que lidera a federação, apoia Assis. Mas José Luís Carneiro – antigo chefe de gabinete e amigo do ex-líder parlamentar –, que nas últimas eleições para a distrital obteve 44% dos votos, está com Seguro.
Além do apoio de peso de António Costa, Assis conta com apoios expressivos dos membros da direcção cessante de Sócrates. Do actual Secretariado do partido, o ex-líder parlamentar já recebeu o apoio de Edite Estrela, Capoulas Santos e de José Lello. Grande parte da direcção do grupo parlamentar também está com Assis. A candidatura anunciou ainda o apoio de cerca de 20 autarcas. A candidatura de Seguro não abre o jogo, mas percebe-se a expectativa de que alguns membros do Governo que ainda não se definiram venham a declarar o seu apoio, logo que o governo de Sócrates cesse funções.
Falar aos militantes
Face à clivagem nos apoios, Francisco Assis tem vindo a insistir que a decisão sobre a liderança do partido cabe aos militantes, uma forma de tentar contrariar as declarações de apoio dos líderes do aparelho a Seguro.
Mas até entre os seus apoiantes é reconhecido que a batalha com António José Seguro é difícil. «Enquanto Assis esteve a ajudar o partido, Seguro esteve a ajudar-se a si próprio», referiu ao SOL um dos dirigentes que está com o ex-líder parlamentar, no que promete transformar-se num argumento para a campanha interna.
Esta semana, no Facebook, Paulo Pedroso revelou-se bastante crítico com a actuação do deputado nos últimos anos. «António José Seguro desde que foi convidado a não enfrentar Sócrates e aceitou retirar-se que geriu silêncios. Nem defendeu as políticas que se iam tomando nem se lhe ouviu voz crítica, excepto em alguns pontos que puxavam a simpatias populistas».
E manifestou esperança na eleição de Assis: «Acredito que em 2011 o PS não premiará gestores de silêncios e conspirações de aparelho confeccionadas enquanto o partido travava uma das suas mais difíceis batalhas».
Seguro limita debates
Além do contacto directo com os militantes, a candidatura de Assis aposta também nos debates com o oponente. «É essencial que haja debates entre os candidatos», insiste Ana Catarina Mendes, directora da candidatura. A deputada refere, no entanto, que do lado de Seguro não tem havido resposta positiva aos convites, quer de órgãos de comunicação social, quer de estruturas partidárias.
Do lado de António José Seguro, a intenção passa por não multiplicar os frente-a-frente. «O número de debates não pode impedir a matriz inicial da campanha – o contacto directo com o máximo possível de militantes», explica Miguel Laranjeiro.
susete.francisco@sol.pt

Fonte http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=22077